Bebê de 23 semanas e menos de 700 gramas deixa a UTI Neo do HMTJ com saúde

Samuel, o “xodozinho” da UTI Neonatal do Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus já é um grande guerreiro. Venceu a batalha pela vida após nascer com 23 semanas e 5 dias de gestação, em junho deste ano. Ele contrariou a literatura médica, as expectativas da equipe de assistência e acreditou na fé dos pais, sobrevivendo com saúde após 120 dias internado na UTI Neonatal do HTMJ. Considerado prematuro extremo e de muito baixo peso foi, até agora, o menor bebê nascido no hospital, que sobreviveu e, praticamente sem sequelas. Tinha 625 gramas ao nascer e chegou a pesar 420 gramas, tendo alta apenas com uma broncodisplasia leve.

A coordenadora da UTI Neonatal, Dra. Gyane Groppo, lembra que é comum todo bebê perder peso após o nascimento, mas o caso de Samuel é muito especial, pois, apesar de um desfecho desfavorável bem esperado, já que era de muito baixo peso e nasceu com infecção, ele ainda teve várias das intercorrências comuns na prematuridade. “Acredito que a mãe foi um grande diferencial para o sucesso de Samuel. Ela foi muito presente, muito envolvida, sempre serena e com muita confiança na equipe”. “Curtiu cada primeira vez do Samuel, a saída do tubo, a primeira chuça, o primeiro Canguru, realmente motivada”, frisa a coordenadora de Enfermagem, Octacília Nogueira.

A ex-babá (porque, agora, vai cuidar do seu pequeno), Elizia Cristina do Nascimento Paes de Oliveira, de 34 anos, com apoio do marido Wellington, foi a fortaleza que garantiu a chance de Samuel primeiro nascer e, depois, sobreviver. Contrariando a recomendação médica, eles decidiram esperar o parto, apesar de ter chegado ao hospital com contrações na 22ª semana de gestação, bolsa rota, Elizia deu entrada com infecção e o ultrassom mostrou que não havia líquido aminiótico na bolsa gestacional. Mas sem aceitar a solução médica de retirar o bebê para garantir a sobrevida da mãe, o casal acreditou em sua fé, pois Samuel era um presente muito esperado. “Eu já tinha desistido de engravidar, mas ele foi prometido para nós e por isso assumimos o risco”, apesar de todas as recomendações em contrário. E Samuel nasceu de parto normal, nove dias depois do primeiro susto.

Jornada épica

E a saga de Samuel na UTI Neonatal começou. Nascido com Apgar de 2,7 (sendo a nota máxima 10), ele já iniciou a vida em ventilação mecânica, e por período prolongado, dependente do tubo por 46 dias. No primeiro mês, ainda com 700 gramas, precisou enfrentar uma cirurgia cardíaca por persistência do canal arterial (PCA), realizada com sucesso pelo cardiocirurgião infantil, Vagner Campos. “O médico me passou toda a confiança e acreditamos que tudo ia dar certo, que Samuel venceria”, reforça Elízia. Depois veio a alteração ocular comum em casos como o de Samuel, a Retinopatia da Prematuridade. Ele fez laserterapia com o oftlamologista especializado em Neonatologia, Emerson Badaró, no final de setembro. “Outro médico excepcional, carinhosíssimo”, reforça a mãe.

E Elízia tenta nominar cada um dos “anjos” que ajudaram a cuidar de seu filho neste longo e difícil período, pois ele ainda passou por um pneumotórax, mas de pouca relevância, foi acompanhado com ultrassom na cabecinha para avaliar consequências neurológicas, ecocardiogramas, mas de toda sequela prevista em um prematuro, ficou apenas com a broncodisplasia. “Todos na UTI Neonatal, das moças que limpam o chão e que me arrancavam risadas quando a situação era tão difícil, ao médico mais especializado, foram anjos na nossa vida, não tenho o que reclamar, só a agradecer e acredito que estávamos no lugar certo para conseguir este resultado feliz”.

Agora, em casa, curtindo as mamadas e o sono sereno do filho, Elízia continua grata a todos que a acolheram e continua elogiando o carinho em seus retornos ao hospital. Samuel já voltou à primeira consulta “e não me deixaram esperar na recepção, para resguardá-lo”, e ainda enfrentará uma cirurgia para corrigir uma hérnia. “Com uma médica de trato muito humano, não tenho medo de enfrentar mais esta etapa”, garante Elizia. Ela recorda que, no início sentia que nem a equipe acreditava na vitória deles, todos estavam sempre ‘pisando em ovos’, mas eu ouvi muitos “um dia de cada vez, mãe”. E também a equipe foi acreditando que ele seria um bebe viável. Samuel recebeu tanto carinho e atenção nestes quatro meses no HMTJ que arrumou mãe postiça e até namorada. “Ele contou com o cuidado especial da médica Bruna, que garantiu e cumpriu que no plantão noturno que trataria dele como se fosse seu filho; além de ganhar uma “namorada”, a Antonella, que ficava na incubadora ao lado. Ela nasceu de 26 semanas, grande sobrevivente também e todos apontavam Samuel como exemplo de força para ela também vencer seu longo período de internação. Minha norinha…”, conclui Elizia rindo e apontando outros episódios importantes naqueles 120 longos dias, tão fundamentais para uma mãe de UTI. Tenta nominar as pessoas da equipe de Enfermagem, Fisioterapia e médicos que a ajudaram. “Mas a força dela realmente foi impressionante”, garantem Octacília e Dra. Gyane.

Humanização de verdade

Elízia destaca o carinho da Enfermagem, que caracterizou os bebezinhos com roupas de festa junina. “Guardo a gravatinha do Samuel até hoje e achei fundamental aquele momento. Ressaltando a questão humana no clima pesado que tem uma UTI. Aprendeu e deu lições. “Eu jamais aceitei chorar na frente do meu filho e falei isso para uma avô, pelo menos. Aqueles bebês não mereciam ninguém chorando por eles, muito menos ali, só sorrindo pelo exemplo de garra que estavam dando ao lutarem pela vida. Adultos não teriam a mesma força”, garante Elizia. Foram quatro meses, tempo suficiente para aprender a dar valor a pequenas coisas, como pegar no colo, amamentar. Eu tinha feito planos completamente diferente, ia fazer fotos de barriga, e não pude fazer nada no tempo certo. Meu marido, também, me deu todo suporte. Além da jornada normal no emprego, ainda trabalhou como motorista de aplicativo para complementar renda, me deixou bem tranquila, ‘estou aqui cuidando de tudo’ garantia ele para eu poder estar no hospital com Samuel todos os dias. E conversando muito com as técnicas de Enfermagem, fui aceitando vendo como ele é forte e, hoje, eu tenho a família que sempre sonhei. Dou graças por ter caído neste hospital, que é do SUS, mas o tratamento foi de um hospital particular, não faltou nada para o meu filho”, conclui a mãe.

Samuel seguirá acompanhado no ambulatório de follow-up do Hospital, passará pela cirurgia de correção da hérnia e acompanho pela Neurologia e Fisioterapia, além do oftalmologista. Ele é uma lição também para a equipe e segue sendo mesmo o “xodozinho” da UTI.

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